Croácia - O dia que eu quase morri.

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Pegue todas as informações sobre viajar sozinha, ser mulher, segurança, preços, localização, saúde, tudo mais que você conseguir reunir e esquece. Foi isso que eu acabei fazendo nesse dia, sabe-se lá porque eu fiz isso, mas foi um ato que levou a outros sem pensar.

Estava em Zadar/Croácia por alguns dias e resolvi conhecer algumas ilhas ali por perto. Esse primeiro dia escolhi ir para Ugljan, algumas pessoas me falaram sobre um forte que valia a pena visitar. 

Meu planejamento louco começou justamente com essa informação e nada mais. Não pesquisei no google e nem fiz mais perguntas. Acordei um dia e falei: "hoje vou chegar nessa ilha e achar esse forte". Peguei minha câmera, algumas moedas da moeda local, celular, carteira de motorista e mais nada. 

Cheguei no porto e me toquei de que não tinha tomado café da manha, mas comprei minha passagem para o próximo barco que me deixaria nessa ilha com as moedas que eu tinha, dai me toquei que não tinha dinheiro para comprar mais nada, se bobear uma água, ou qualquer coisa baratíssima em um super mercado. Com essa informação o pensamento foi: "quando eu chegar na ilha, eu tento achar alguma coisa". 




Ainda no barco fui fotografar algumas coisas interessantes, e percebi que minha câmera estava sem bateria (que eu esqueci carregando) e sem cartão de memória. Fiquei bem chateada, mas nem tanto por ter esquecido (isso no começo), e sim por ter que carregar o peso todo da minha câmera atoa!!!
Não tendo o que fazer, não pensei no pior, continuei com meus pensamentos positivos. 

Quando o barco chegou na ilha, eu não tinha nem ideia se eu tinha que ir para esquerda ou direita. Deixei meu instinto de aventureira me guiar, resolvi ir para direita até achar um supermercado ou um lugar com informação turística. Acabei achando os dois, mas não podia comprar nada no mercado. Estava tudo muito caro e pensei que poderia achar algo mais barato em algum lugar afastado. 

No posto de informação turística, perguntei finalmente onde ficava o tal do forte. A moça me deu umas dicas do que fazer, um mapa ilustrado (super fofo) da ilha e um X apontando onde fica o forte. Só que eu tinha que fazer uma decisão séria ali. Ou eu ia para o forte, que parecia ser longe e no meio do nada, ou eu fazia outros passeios e tentava comer alguma coisa.




Escolhi pegar a trilha para chegar no forte. Até essa hora eu tinha bebido apenas um gole de água em uma fonte no porto. Eu tinha esquecido minha garrafa de água em Zadar. Mas pensei, "perto da trilha deve ter alguma coisa, ou na trilha mesmo deve ter algum lugar que eu consiga água" (como nas trilhas da Slovênia que você pode beber qualquer água que brota do chão -.- hahaha) Ilusão a minha... Pensei também que poderia achar um lugar para comprar umas bananas antes de começar a subida. Também não achei nada.

Mas porque desistir ali, né? Continuei assim mesmo, cheguei na placa de inicio da trilha... e fui. Nos primeiros 10 minutos de trilha/muita subida, pensei "mas que merda eu estou fazendo aqui" Não tinha nenhuma alma viva no caminho, fiquei morrendo de medo de tudo, não parecia ter lugar nenhum para conseguir água, comida ou qualquer outra coisa. O sol estava de rachar e não tinha lugar com sombra. Mas de novo, "estou aqui já, porque desistir?" Pensei que poderia passar alguém de carro e me dar uma carona (igual na Slovênia / mas também foi pura ilusão)





Já tinha andado mais de uma hora, estava passando mal, fraca e tonta ( só agora que é engraçado hahaha) eu já até conseguia ver o forte. Naquele momento eu tinha um pensamento de que se eu chegasse lá, um lugar em ruínas, eu ficaria bem. Vai saber porque, né? Não me deixei abalar e continuei caminhando loucamente, precisava chegar lá. 

Em paralelo a isso, não tinha como não reparar na beleza daquele lugar. É, de fato, uma ilha incrível, tem uma magia por trás de tudo aquilo. Inclusive na história, dizem que o forte foi construído por fadas que carregaram pedras de uma outra ilha. Ainda tem mais!!! Do tempo medieval \o/ Que ali era um corredor para bruxas voarem do sul da Itália em direção a Europa central. Lá de cima você consegue ver uma baia que se chama "the bay of light" e uma outra "the bay of dark" que representa a essa história de bem e mal etc. Adoro essas histórias, fico imaginando essas coisas pelo caminho, lembra aquele desenho "o fantástico mundo de bob" então, sou eu! 

Chegando na base do forte eu tinha duas opções, uma mais difícil pelas pedras e uma fácil pelo asfalto mesmo, até a entrada. Claro que eu escolhi a mais difícil, porque eu só descobri essa fácil na hora de ir embora. Lá em cima eu já estava quase desmaiando, quando vi que tinha uma "casa" dentro do forte que estava lá por causa de umas antenas que forneciam tv ou qualquer outra coisa para ilha. Pensei que algum lugar em volta da casa teria uma torneira, mas não tinha.




Mas, do nada, vi um senhor saindo de dentro dessa casa, eu olhei bem no fundo dos olhos dele e falei a unica palavra que eu sabia em croata: "voda, please" (please porque naquele momento eu tinha esquecido como era porfavor em croata, mas o mais importante eu lembrei). Eu deveria estar com uma cara terrível e pálida. Ele super fofinho, veio rápido e trouxe uma garrafa de dois litros, gelada, incrivelmente boa. Comecei a tomar, mas ele falou para esperar. Por um momento me senti super mal educada :P dai ele veio com uma garrafa de 600ml de coca (que eu guardei até hoje) e encheu de água para eu levar na volta. É ou não é fofo?! 

O mais interessante é que ficamos um bom tempo conversando sem falar o idioma um do outro. Foi muito divertido, ele não falava uma palavra de inglês ou qualquer outra coisa, e eu não sabia nada de croata, só a palavra da salvação "água". Nós rimos e ficamos um tempo apreciando a vista. Quem já passou por isso sabe muito bem do que eu estou falando, sorrisos e gestos, de algum jeito a gente entende o que o outro quer dizer, mesmo em outro idioma

Fiquei um bom tempo lá em cima esperando alguma boa alma passar de carro, mas ninguém passou. Já era de tarde e a única coisa que eu tive nesse dia até essa hora foi a água maravilhosa do meu novo amigo croata. Estava na hora de ir, se não, eu ia perder o barco da volta, dai só umas 20h, porque o barco não passa na hora do por do sol. Acho que é para não atrapalhar a vista de Zadar (sei lá). Percebi que faltava MEIA HORA para o barco partir e eu ainda estava lá em cima. Detalhe: vendo o barco se aproximando do porto. 

Não deu tempo de pensar dessa vez, vi que minha única opção para chegar em Zadar no tempo de pegar o pôr do sol seria correr, literalmente, e muito! Tirei forças do além e das bruxas daquela história, e fui. Cheguei no porto, fui a ultima a entrar no barco e ele saiu! Sinceramente, não sei como eu consegui chegar no barco. Na verdade não sei como eu consegui fazer esse caminho todo, foram mais de 12km nessa brincadeira. 

O que eu posso dizer é: foi um dos lugares mais lindos que eu fui, foi uma das trilhas mais loucas que e fiz, a vista de um forte mais perfeita de todas que vi. Mas foi o passeio mais irresponsável que eu já fiz na vida. Ainda bem que nada aconteceu, mas bateu um medinho algumas horas. E sim, eu faria tudo de novo, só que dessa vez com minha garrafa de água, minha câmera carregada e com cartão de memória hahaha :D No fim, cheguei bem em Zadar e peguei mais uma vez esse pôr do sol incrível, que é considerado um dos mais belos do mundo.














 



Bônus!!! A garrafa da salvação:




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