Muito se fala sobre mochilar pelo mundo, largar tudo e viver com uma mochila, sobre o tal sonhado mochilão na Europa ou sudeste asiático, enfim, mas quando o 'mochilão', de fato, passou de uma verdadeira experiência de vida para um rótulo impregnado de marketing e status?


Se você der uma voltinha pelas redes sociais ou pelo google, será fácil encontrar títulos que enchem os olhos, sobre mochilões incríveis e perfeitos mas que na realidade são outro tipo de viagem (que não deixam de ser incríveis e perfeitas). Se enfiar no meio do mato, fazer um adventure tour qualquer, ficar no hostel mais cool, ou se isolar loucamente não te faz um mochileiro.

Não quero dizer que existe um jeito certo de fazer mochilão, você não precisa largar tudo (não mesmo!!), ou que algum tipo de viagem é melhor ou pior que a outra (não mesmo de novo!!!), mas que usar essa "expressão" não te faz um mochileiro. Gastar pouco mas ficando em airbnb? Andando de trem na Europa? Ficar na correria de passar três dias em um país?! Procurando todos os pontos turísticos porque se não fizer foto lá, não esteve lá, certo?! Cês tão é doido! Me desculpem, isso não é mochilão.

Muitas pessoas falam que eu que sou doida de ficar meses por aí, explorando, com pouco ou quase nenhum dinheiro, as vezes nem tendo onde dormir e contar com a boa vontade das pessoas, etc. Mas nada nesse mundo pode apagar e pagar as experiências que já vivi viajando por aí, e sim, literalmente botei uma mochila nas costas, que posso chamar de casa, e só fui. Não enchi ela de lembrancinhas e coisas dos lugares, não tinha dinheiro e nem espaço, mas ela ficou lotada de experiências, aprendizado e momentos incríveis.

Porque eu chamo minhas viagens de mochilão? Simplesmente porque é meu estilo de vida, viver com pouco, viver de experiências, aprender com elas, buscar sempre qualidade de vida e inclusive, autoconhecimento. Gosto de: "MENOS É MAIS". Um exemplo é: Se você tem um mês, é melhor ficar em um país e conhecer o máximo que puder, do que conhecer um montão de países em 30 dias.  Mochilar não é mochilar só pra longe, você pode mochilar pelo seu Estado ou pela sua Cidade. 
Conheça, vivencie uma cultura, e não se isole em seu quarto, casa ou seu circulo social.

Sair de sua casa pra viver exatamente do mesmo jeito em outro país ou lugar não te faz um mochileiro sinistrão (talvez apenas do youtube/instagram/facebook). Só você sabe de suas experiências reais quando põe a cabeça no travesseiro sozinho e vai dormir. Você continua sonhando com suas fantasiosas viagens para mostrar para os outros ou fica agradecido por suas experiências incríveis e deseja por mais para você mesmo? Muitas pessoas se dizem mente aberta, mas na verdade só mudam de conceitos, acabam se apegando a eles do mesmo jeito e se fecham. Desapega!!!

Existe tanta possibilidade e oportunidades de fazer viagens incríveis pelo mundo gastando realmente pouco! E pouco me importa o nome que você dá pra isso. O que importa é você curtir com o que você tem e com o que você pode e no seu estilo. Importa você viver experiências, conhecer pessoas, meter a cara, pedir carona mesmo, parar de ter medo de tudo e de todos. 

Se permita, se conheça, explore e SÓ VAI!
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Berlim:
 
Veneza:
 
Plitvice:
Viena:

Texel:
Friburg:
Zurique: 



Pegue todas as informações sobre viajar sozinha, ser mulher, segurança, preços, localização, saúde, tudo mais que você conseguir reunir e esquece. Foi isso que eu acabei fazendo nesse dia, sabe-se lá porque eu fiz isso, mas foi um ato que levou a outros sem pensar.

Estava em Zadar/Croácia por alguns dias e resolvi conhecer algumas ilhas ali por perto. Esse primeiro dia escolhi ir para Ugljan, algumas pessoas me falaram sobre um forte que valia a pena visitar. 

Meu planejamento louco começou justamente com essa informação e nada mais. Não pesquisei no google e nem fiz mais perguntas. Acordei um dia e falei: "hoje vou chegar nessa ilha e achar esse forte". Peguei minha câmera, algumas moedas da moeda local, celular, carteira de motorista e mais nada. 

Cheguei no porto e me toquei de que não tinha tomado café da manha, mas comprei minha passagem para o próximo barco que me deixaria nessa ilha com as moedas que eu tinha, dai me toquei que não tinha dinheiro para comprar mais nada, se bobear uma água, ou qualquer coisa baratíssima em um super mercado. Com essa informação o pensamento foi: "quando eu chegar na ilha, eu tento achar alguma coisa". 




Ainda no barco fui fotografar algumas coisas interessantes, e percebi que minha câmera estava sem bateria (que eu esqueci carregando) e sem cartão de memória. Fiquei bem chateada, mas nem tanto por ter esquecido (isso no começo), e sim por ter que carregar o peso todo da minha câmera atoa!!!
Não tendo o que fazer, não pensei no pior, continuei com meus pensamentos positivos. 

Quando o barco chegou na ilha, eu não tinha nem ideia se eu tinha que ir para esquerda ou direita. Deixei meu instinto de aventureira me guiar, resolvi ir para direita até achar um supermercado ou um lugar com informação turística. Acabei achando os dois, mas não podia comprar nada no mercado. Estava tudo muito caro e pensei que poderia achar algo mais barato em algum lugar afastado. 

No posto de informação turística, perguntei finalmente onde ficava o tal do forte. A moça me deu umas dicas do que fazer, um mapa ilustrado (super fofo) da ilha e um X apontando onde fica o forte. Só que eu tinha que fazer uma decisão séria ali. Ou eu ia para o forte, que parecia ser longe e no meio do nada, ou eu fazia outros passeios e tentava comer alguma coisa.




Escolhi pegar a trilha para chegar no forte. Até essa hora eu tinha bebido apenas um gole de água em uma fonte no porto. Eu tinha esquecido minha garrafa de água em Zadar. Mas pensei, "perto da trilha deve ter alguma coisa, ou na trilha mesmo deve ter algum lugar que eu consiga água" (como nas trilhas da Slovênia que você pode beber qualquer água que brota do chão -.- hahaha) Ilusão a minha... Pensei também que poderia achar um lugar para comprar umas bananas antes de começar a subida. Também não achei nada.

Mas porque desistir ali, né? Continuei assim mesmo, cheguei na placa de inicio da trilha... e fui. Nos primeiros 10 minutos de trilha/muita subida, pensei "mas que merda eu estou fazendo aqui" Não tinha nenhuma alma viva no caminho, fiquei morrendo de medo de tudo, não parecia ter lugar nenhum para conseguir água, comida ou qualquer outra coisa. O sol estava de rachar e não tinha lugar com sombra. Mas de novo, "estou aqui já, porque desistir?" Pensei que poderia passar alguém de carro e me dar uma carona (igual na Slovênia / mas também foi pura ilusão)





Já tinha andado mais de uma hora, estava passando mal, fraca e tonta ( só agora que é engraçado hahaha) eu já até conseguia ver o forte. Naquele momento eu tinha um pensamento de que se eu chegasse lá, um lugar em ruínas, eu ficaria bem. Vai saber porque, né? Não me deixei abalar e continuei caminhando loucamente, precisava chegar lá. 

Em paralelo a isso, não tinha como não reparar na beleza daquele lugar. É, de fato, uma ilha incrível, tem uma magia por trás de tudo aquilo. Inclusive na história, dizem que o forte foi construído por fadas que carregaram pedras de uma outra ilha. Ainda tem mais!!! Do tempo medieval \o/ Que ali era um corredor para bruxas voarem do sul da Itália em direção a Europa central. Lá de cima você consegue ver uma baia que se chama "the bay of light" e uma outra "the bay of dark" que representa a essa história de bem e mal etc. Adoro essas histórias, fico imaginando essas coisas pelo caminho, lembra aquele desenho "o fantástico mundo de bob" então, sou eu! 

Chegando na base do forte eu tinha duas opções, uma mais difícil pelas pedras e uma fácil pelo asfalto mesmo, até a entrada. Claro que eu escolhi a mais difícil, porque eu só descobri essa fácil na hora de ir embora. Lá em cima eu já estava quase desmaiando, quando vi que tinha uma "casa" dentro do forte que estava lá por causa de umas antenas que forneciam tv ou qualquer outra coisa para ilha. Pensei que algum lugar em volta da casa teria uma torneira, mas não tinha.




Mas, do nada, vi um senhor saindo de dentro dessa casa, eu olhei bem no fundo dos olhos dele e falei a unica palavra que eu sabia em croata: "voda, please" (please porque naquele momento eu tinha esquecido como era porfavor em croata, mas o mais importante eu lembrei). Eu deveria estar com uma cara terrível e pálida. Ele super fofinho, veio rápido e trouxe uma garrafa de dois litros, gelada, incrivelmente boa. Comecei a tomar, mas ele falou para esperar. Por um momento me senti super mal educada :P dai ele veio com uma garrafa de 600ml de coca (que eu guardei até hoje) e encheu de água para eu levar na volta. É ou não é fofo?! 

O mais interessante é que ficamos um bom tempo conversando sem falar o idioma um do outro. Foi muito divertido, ele não falava uma palavra de inglês ou qualquer outra coisa, e eu não sabia nada de croata, só a palavra da salvação "água". Nós rimos e ficamos um tempo apreciando a vista. Quem já passou por isso sabe muito bem do que eu estou falando, sorrisos e gestos, de algum jeito a gente entende o que o outro quer dizer, mesmo em outro idioma

Fiquei um bom tempo lá em cima esperando alguma boa alma passar de carro, mas ninguém passou. Já era de tarde e a única coisa que eu tive nesse dia até essa hora foi a água maravilhosa do meu novo amigo croata. Estava na hora de ir, se não, eu ia perder o barco da volta, dai só umas 20h, porque o barco não passa na hora do por do sol. Acho que é para não atrapalhar a vista de Zadar (sei lá). Percebi que faltava MEIA HORA para o barco partir e eu ainda estava lá em cima. Detalhe: vendo o barco se aproximando do porto. 

Não deu tempo de pensar dessa vez, vi que minha única opção para chegar em Zadar no tempo de pegar o pôr do sol seria correr, literalmente, e muito! Tirei forças do além e das bruxas daquela história, e fui. Cheguei no porto, fui a ultima a entrar no barco e ele saiu! Sinceramente, não sei como eu consegui chegar no barco. Na verdade não sei como eu consegui fazer esse caminho todo, foram mais de 12km nessa brincadeira. 

O que eu posso dizer é: foi um dos lugares mais lindos que eu fui, foi uma das trilhas mais loucas que e fiz, a vista de um forte mais perfeita de todas que vi. Mas foi o passeio mais irresponsável que eu já fiz na vida. Ainda bem que nada aconteceu, mas bateu um medinho algumas horas. E sim, eu faria tudo de novo, só que dessa vez com minha garrafa de água, minha câmera carregada e com cartão de memória hahaha :D No fim, cheguei bem em Zadar e peguei mais uma vez esse pôr do sol incrível, que é considerado um dos mais belos do mundo.














 



Bônus!!! A garrafa da salvação:



Minha vida até esse ano se resumiu em fazer as malas, caixas e separar o que é para doar e o que fica e vai para próxima casa. Me lembro muito bem como foram todas as mudanças, e posso dizer que foram muitas mesmo. Acredito que isso só reafirmou o que eu sinto quando estou diante de um fato novo, e toda oportunidade de uma nova vida pela frente (amo demais).

E se eu quisesse ser uma pessoa em cada lugar que eu passasse? Eu poderia! E não deixa de ter sido um pouco disso, comecei essa "peregrinação" quando tinha uns doze anos, e cada mudança eu tinha uma bagagem anterior e um estilo de vida diferente. Eu era a menina esquisita que veio da cidade grande tentando ser uma menina do interior, não largava da minha bike, foi a minha melhor amiga por anos hehe. 

Mas porque não aproveitamos essa oportunidade de se reinventar a cada dia em nossas vidas, no nosso próprio cotidiano? Porque você tem que viajar, ou mudar para fazer isso acontecer? Comigo isso aconteceu por forças do acaso, mas em todos lugares que eu passei mais tempo, tentava descobrir um lado novo, novas pessoas e tudo de melhor que eu poderia. Sempre fui uma "turista" em todos os lugares, esse desejo de conhecimento e de novidade é tão grande que não cabe dentro de mim, transborda. 

Esses dias fiz uma viagem para o interior do Rio, onde passei uma boa parte da minha vida. Encontrei com amigas da época do ensino médio. E estávamos conversando sobre isso... todo mundo sempre me pergunta: "Mas menina.. onde tu está morando". Se não for a primeira pergunta quando me vê, é a segunda pergunta. Sem exceção :P! Chega a ser engraçado e ficamos ensaiando o que eu responderia da próxima vez. 

De fato essa é uma pergunta complexa, nunca sei como responder. Mas eu sei de uma coisa, tenho certeza que o lugar onde moro é onde meus amigos, minha família e todas as pessoas que eu gosto estão. Independente de lugar físico. Quando eu estou com vocês eu me sinto em casa, me sinto feliz e completa. Não tem lugar no mundo que me faça sentir do mesmo jeito. Essa é minha casa e é onde habito.